31/03/2017

Cartas d'Amor - Eça de Queiroz #resenha



Livro: Cartas d’Amor
Autor: Eça de Queiroz
Editora: Garamomond
Páginas: 96


As cinco cartas publicadas e organizadas neste livro, fazem parte de um mini romance onde constituem uma pequena parte de tudo o que Eça escreveu para o personagem Fradique, que se revela um homem culto, cortês e galanteador. Sua paixão por Clara carrega uma intensidade de proporção descomunal.
A composição do personagem foi feita de forma coletiva. Fradique ganhou "vida" através das mentes brilhantes de Jaime Batalha Reis e Antero de Quental, embora a maior parte dos textos, foram produzidos por Eça.
Eça de Queirós foi um dos grandes nomes da literatura portuguesa. Os clássicos mais conhecidos de sua autoria são “O crime do Padre Amaro”, “O Primo Basílio” e “Os Maias.” Na primeira fase da sua carreira, escreveu obras com influência romântica.
Tudo começa quando Fradique vê uma bela moça que estava em companhia de Madame de Jouarre. A primeira carta é escrita à Madame questionando quem era a moça. Ele repassa na carta detalhes de quando as viram juntas e o quanto encantou-se pela moça e, somente a partir da segunda carta, é que ele fala à Clara diretamente.
Eles vivenciam um romance bem efêmero e especial onde tudo é relatado de forma muito bela e profunda. A forma como ele se declara, é de muita riqueza poética.
Os textos não permitem uma compreensão tão fácil das referências que carregam, pois, muitos dos elementos citados são bem antigos. O livro também é super bem escrito, apaixonante, possui uma linguagem mais complexa, embora, seja perfeita para a época em que as cartas foram escritas. Para quem gosta do gênero, o romance eleva à alma pela sublime delicadeza e profundidade que possui.
A penúltima carta pareceu um pouco forçada. Ele a colocava como uma santa a quem devia reverências e adoração. Típico dos românticos da terceira geração. Mas ainda sim, Eça conseguiu levar a leitura de forma agradável.
Também é muito interessante e bem estruturada a comparação entre Jesus e Buda feita por Fradique. Interessante, embora equivocada, a meu ver. Fradique toca nesse assunto, por Clara ter jugado a história de Buda complexa. E assim ele argumenta que o discurso de Buda foi superior ao de Cristo. Uma vez que Cristo chamou todas as grandezas à sua humildade e prega uma vida longe das riquezas e dos prazeres para que seus fiéis possam receber uma recompensa que é uma vida em um paraíso onde ele (Cristo) reinará. Já Buda rejeitou a sua riqueza para humilhar-se e prega a abnegação dos prazeres e das riquezas, para voltar-se a agir com retidão e honestidade no mundo e assim criar um ciclo de boas ações fazendo com que a terra seja melhor para as gerações futuras. Criticou também a forma como Cristo se apresenta. Como o filho de Deus, e já Buda, como um mero mortal. Por isso, segundo Fradique, a vida de Buda comparada à de Cristo é mais meritória.
Embora eu não concorde por questões bem subjetivas, afinal, eu creio que além de filho de Deus, Cristo era o próprio Deus encarnado, devo confessar que o paralelo traçado foi de um profundo conhecedor de ambas as figuras religiosas. Com temática crítica, o autor causou polêmica na sociedade portuguesa da época e foi condenado pela Igreja Católica. 
O final das cartas é emocionante. E o fim do livro físico (em PDF não consta), contém informações preciosas sobre o personagem, a época em que as cartas foram escritas, onde foram publicadas pela primeira vez, entre outras informações super úteis. 




Eu tentei estruturar um poema recolhendo algumas partes dos 'arroubos epistolares' de Fradique à Clara. O texto abaixo, são fragmentos das declarações do personagem à sua amada que estão espalhados pelo livro e eu os agrupei para formar um poema:


Foi no inverno que a vi entre os molhos de orquídeas
Logo tudo ao redor me pareceu irreparavelmente enfadonho
E voltei a readmirar, a meditar em silêncio a sua beleza
Essa imagem foi para mim meramente um quadro
Pendurado no fundo da minha alma
Antes de te amar, que era eu na verdade?
De modo que por o meu amor não ser perfeito,
Tenho de me contentar que seja eterno.
E a vida contigo e por ti é tão inexpressivamente bela!
Que outro princípio governa e mantém a minha vida senão o teu amor?

Para perpétuo orgulho do nosso coração
É necessário que desse amor nos fique
Uma memória tão límpida e perfeita,
Uma sublime realidade governando o nosso ser
Da minha vida sei, pelo menos, que ela perpetuamente
Será iluminada e perfumada pela sua lembrança.

Fradique



Se você quiser conferir a beleza dessas cartas, elas estão disponíveis em PDF pelo site Domínio Publico: Clique aqui!

26/03/2017

Não há riscos! #música

A última poesia que postei tem um tempinho.
O texto abaixo não é uma poesia, é a letra de uma canção que eu amo muito. Ela é inédita e foi escrita para o romance "Silêncio".
É um romance um pouco maior do que o conto que foi postado aqui. A trama ainda está em construção. Lucas é um personagem que é músico, desenhista e poeta.
Como todo romance, existe algo que os impossibilita de ficarem juntos, apesar de Lucas ligar o mínimo para esse obstáculo. Mas precisa fazer com que Priscila entenda que o que sente por ela é algo muito firme, por isso, ele usa todo seu talento para conquistá-la. E uma das músicas que ele compôs à Priscila, você pode conferir abaixo:















Não há riscos

Eu paralisei no momento em que os meus olhos fitaram os seus
Assim que seu sorriso se abriu para o meu
Desenho tuas formas em meu coração
Eu me apaixonei! Meu mundo gira agora em função do seu
Meu bem a tua essência me eleva aos céus
Tua presença é o segredo da cura para os meus medos

Fico feliz só em admirar 
O movimento dos teus lábios enquanto você fala
Sua tentativa em resistir o meu olhar
Toma esse violão que eu toco
Só quero tocar mais fundo
Teu mundo, meu amor!

[Refrão] 
Não há riscos em permitir esse amor crescer
Teu querer é combustível ao meu viver
Invisto o meu tempo ensaiando o momento de te encontrar
Não há riscos, esse amor já floresceu!
O teu olhar controla o meu... te escolheu
Vai perseguindo os passos que um dia virão em minha direção.


Para ler o conto que em breve será um romance completo Clique aqui!

14/03/2017

Cartas Contemporâneas - Um amor possível? V

O medo de perder transformou-se em desespero!
Falar sobre sentimentos pode ser algo muito difícil. Principalmente se a pessoa acostumou-se a não dizê-los. Mas quando se adquire confiança em relatar o que se sente, as palavras correm fluidas e difícil mesmo, é calá-las. 



 Ler CARTAS anteriores: Carta ICarta IICarta IIICarta IV


         Não faz besteira, Júlia! Por favor! Não se envolve com um cara qualquer, você tem noção do quanto é preciosa? 
         Não é legal planejar a vida com alguém que não possa ajustar-se para merecer um coração como o seu. E eu estou disposto!
         Não é que eu queira ser amado somente. Eu também quero amar. Estou disponível em me abrir para isso. Mas tem que ser você, Júlia! Não alguém como você, porque essa comparação não existe, eu conheço muitas pessoas. Trabalho com gente e você é única!
         E também não é que eu queira mudar por você. Eu quero mudar com você! É diferente. Assim como você pode continuar a aprender comigo. Mas eu também aprendi muito com você! Estamos mais maduros, éramos muito jovens e eu não tinha noção do que era um relacionamento sério e nem do quanto isso poderia valer a pena.
         A sua visão do que aconteceu conosco foi formidável! Eu não teria chegado nesse pensamento de jeito algum... Não conseguiria estruturar esse aprendizado de forma tão positiva e significante. Você sempre vai ver o lado bom das coisas.
         As pessoas não consertam nada mais hoje em dia. Tudo tornou-se descartável. Os relacionamentos, as pessoas...
         Assim como eu, você deve ter ouvido muitas vezes para seguir sua vida, e isso é o certo! Mas se tivermos a oportunidade de reparar nossos erros é ideal que possamos fazê-lo. No entanto, eu percebo que de ambas as partes ainda existe sentimento, embora você seja esse doce de pessoa com todos à sua volta e isso não seja um privilégio só meu. Não estaria aqui insistindo se não houvesse ponderado que podemos ser felizes juntos ainda.
         Me dê a chance de refazer a nossa história? Não me encontre no que gosto, mas me dê o gosto de te encontrar novamente.
         Júlia, eu sou um homem de palavra e se eu não viver para que se sintas a mulher mais especial do mundo, eu quero ser lobotomizado! Meu conhecimento, meu ceticismo, tudo o que me define não vale nada perto da possibilidade de te ter de volta.
         Eu preciso de você assim como os rios precisam das águas. Isso é tão brega! Mas eu prometo pensar em algo melhor. Júlia, me diz o que eu preciso fazer pra que me dês uma oportunidade de te ver. Preciso vencer um duelo, matar um gigante, atravessar vales, escalar torres, conseguir o coração de um dragão?
         Júlia, eu não conseguia dizer antes porque nunca fomos dessas coisas, mas... Eu te amo!
         Me passa seus números, marca um encontro comigo, eu digo isso olhando nos teus olhos sem receio algum. Talvez suando bastante, mas digo. Escrevo no muro da minha casa, faço uma tatuagem (você não iria querer isso, iria?) dizendo que você é a mulher da minha vida. Faço até declaração pública em um estádio de futebol, escreveria cartas tão lindas, seria um cara tão romântico que até Shakespeare teria inveja do meu romantismo. Júlia... Esses romances que você lê, serão meras histórias perto da história que eu estou me comprometendo a escrever ao teu lado.
         Eu nunca quis me envolver com ninguém porque era disso que eu tinha medo. Dessa dor horrenda do amor. Eu nem sabia que isso existia de verdade. E agora eu sinto, porque cada célula do meu corpo se agita sentindo a sua falta. Eu não sou insubstituível, eu sei! Não quero que você pense que estou sendo pretensioso ou algo assim... Só me dá uma chance. Por favor! Só uma! 
         Você me conhece, conhece a minha família, já me amou uma vez e pode ser que ame novamente. Se não sentisse mais nada, não se daria ao trabalho de responder os e-mails. 
         Júlia, esse texto mal escrito e repetitivo é desespero! Você não tem as nossas fotos! Estou mandando a que mais gosto para você lembrar que a gente pode tentar novamente. Jamais brincaria com teus sentimentos, jamais pediria algo tão importante no calor da emoção, apesar de eu não estar conseguindo refletir direito:


Júlia, casa comigo? 



Fonte: Elmundo.com




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Curiosidades: 
As faces de Pedro e Júlia foram ilustradas pelos atores Berta Vázquez e Mario Casas. Eles são os protagonistas do filme: Palmeras en la Nieve. Um drama baseado em fatos reais com uma história forte e marcante. Tão rica quanto bela e emocionante. Os atores foram namorados por um tempo.
A ideia das cartas surgiu após a leitura do livro de Eça de Queiroz: Cartas d’Amor.
As cartas de Pedro e Júlia vão continuar no wattpad, e você não tem noção do que ainda vai acontecer com eles. Assim que postar lá, faço uma postagem aqui informando. Obrigada!

13/03/2017

Cartas Contemporâneas - Um amor possível? IV

Ainda que no passado os desarranjos tenham sido mais presentes que os acordos, o tempo para o acolhimento dos sentimentos foi extremamente necessário. Fantasiando ou revelando desesperanças... As cartas contêm sonhos, saudades, confissões, desabafos, ressentimentos e mágoas, mas pela insistência de ambos e a densidade expressiva nas palavras, certamente podemos denominá-las como CARTAS DE AMOR.


Atriz Berta Vázquez


Ler CARTAS anteriores: Carta ICarta II e Carta III


Olá, Pedro!

Desculpe pela demora! Eu li e reli várias vezes seu último e-mail. Desta vez quem não sabe como começar sou eu. Que bom que você percebeu meu desabafo, eu realmente precisava falar tudo aquilo.
Sabe, Pedro... O que me fazia permanecer ao seu lado era a minha ilusão de encontrar nos teus olhos a certeza de que bem lá no fundo eu era importante na sua vida, ainda que você não conseguisse expressar com palavras. Essa certeza se esvaía assim que suas atitudes, ou a falta delas me provavam o contrário.
Sinto-me lisonjeada por suas palavras, Pedro! Se bem que você exagera... rs
Fico realmente feliz por você tentar domar esse seu gênio. Eu sabia que você não era o que demonstrava ser. Uma pena você ter revelado essa parte mais bonita tanto tempo depois.
Eu não menti! Eu achava que você me fazia feliz até terminar o relacionamento e conhecer a verdadeira felicidade.
Eu entendo que queira mudar, porque você mesmo se prejudica sendo assim. E o fato das coisas não estarem indo bem na Concept, também ajudam.
A gente passa a refletir sobre a vida quando algo começa a dar errado. 
Eu nunca falei isso, porque você não me ouviria, mas você dorme muito pouco, se preocupa demais e esse é um dos motivos de viver tão estressado. Quase não tinha tempo livre, trabalhava aos finais de semana, não tirava férias. Como que alguém pode viver assim? Isso é altamente prejudicial.
Espera! Eu li direito? Você citou Deus? Não consegui parar de rir. Empaquei nessa parte.
Tens receio de demonstrar seus sentimentos, de parecer vulnerável, por isso você se fechou nessa caixa. Isso é um medo de demonstrar suas fraquezas, de parecer bobo, sei lá. Até o seu foco no trabalho, nos estudos, é uma fuga. Agora eu entendo! Você se afasta das pessoas e faz com que elas se afastem de você. E o seu jeito rígido e antipático assim tão extremo, é uma espécie de proteção.
Você não errou sozinho. Eu também te sufoquei um pouco com os meus ciúmes e fazia algumas coisas só pelo prazer de te ver irritado mesmo. Sei lá! Seu sorriso é bonito, mas você sério era um... Não sei definir! Não sei... Você ficava com as veias saltadas, aquela cara de que o mundo estava acabando e inferia leves toques com a ponta do polegar no queixo, xingando umas coisas incompreensíveis. No ápice da sua irritação você deixava de falar comigo. E eu, brincava com o cão! Eu não parava, Pedro! Conseguia te irritar ainda mais até que você se afastava e eu ficava rindo. Aquilo me deixava louca! Porque você se "vingava" das minhas implicâncias de uma forma bem divertida.
Também agradeço por me permitir saber que minhas atitudes te ajudam a refletir. Na verdade você já está se mostrando diferente. Quando que você se imaginaria sentar e investir tempo escrevendo sobre seus erros à alguém? Isso é um milagre! Será que é mesmo o Pedro que está escrevendo? rs
A primeira lição sistemática que vou te dar para cooperar em sua mudança, vai ser a seguinte: Não se agradece nenhuma conquista a uma pessoa que nunca viu. O que foi aquele agradecimento de formatura? “Eu agradeço a Descartes pela ajuda em meu desenvolvimento intelectual, por tirar a venda dos meus olhos e blá, blá, blá...” Jurava que esse nome era como você chamava o seu pai, ou algo assim. Depois que sua mãe ficou rindo de você na volta para casa que eu entendi que você se referiu à René Descartes, o filósofo que já morreu há décadas. Eu morri com aquilo, Pedro! Que ridículo! Na boa... Você não existe!
Talvez sua relação não seja muito boa com a sua mãe, mas a gente agradece mesmo pelas pequenas coisas: Ela te gerou, te amamentou, viu você dar os primeiros passos, te colocou na escola pra você fazer uma das coisas que você mais gosta na vida que é estudar. Olha que legal?
Seus professores, por exemplo, te auxiliaram nos estudos, te indicam livros do seu interesse, eles são os mediadores entre você e o conhecimento, ou seja, são pessoas reais com as quais você tem relações reais!
Pedro, eu não sou a única pessoa que te amou, sua mãe sempre falou de você com muito carinho. Se você se desse o privilégio de estar com ela mais vezes do que poderia e gostaria, saberia o quanto é amado.
Portanto, vá às bodas! Deixe-a perceber que você está cuidando dela. Você sempre vai ter mais importância na vida dela do que o atual marido dela, Pedro! Pare com esse ciúme infantil!
As pessoas me acham muito otimista, mas sabe o que eu vejo agora? Que o nosso relacionamento foi uma experiência que deu certo, apesar de ter acabado. Sim! Veja bem... Eu cresci, amadureci e aprendi muito com a forma não tão agradável de como ele terminou. E você conseguiu enxergar que necessita mudar, que não pode viver só pra si mesmo. Acredito que reconhecer os erros, já foi o primeiro passo.
Conforme você mesmo disse, todos temos algo para melhorar em nós. Você ressaltou meu altruísmo, Pedro! Mas às vezes eu não consigo pensar em mim mesma. Eu não consigo fazer algo por mim, comprar algo só para mim...
Por exemplo, às vezes eu anulava o que eu queria para te fazer feliz, abria mão das minhas vontades para que pudéssemos cumprir a sua. Isso não é bom! Isso não é uma relação saudável!  É claro que em alguns momentos temos que ceder, mas eu cedia sempre! Daí você se acostumou com uma pessoa que fazia todas as tuas vontades. Mas em algum momento isso iria me cansar.
Eu sempre coloquei o coração em tudo, mas existem algumas situações em que é imprescindível que ajamos de forma mais racional. Devemos buscar o equilíbrio em todas as coisas.
O meu maior problema é que eu esperava que você fosse como eu. E ninguém pode ser como eu. Eu sou um modelo exclusivo! Haha!
Sério... O que a gente precisava, na época, era aprender a lidar com nossas diferenças, dialogando sobre elas.
Compreendo que se eu quiser fazer algo de bom por alguém, tenho que entender que nem sempre aquilo vai retornar para mim, por isso, tenho que ser o que sou sem me importar como os outros agirão ou responderão. Fazer o bem por uma recompensa ainda que essa recompensa seja o carinho, admiração ou o amor de alguém, não é ser boa de verdade, é ser carente.
Nem todo mundo consegue ser grato. Às vezes se faz o bem e recebe em troca a ingratidão. Entretanto, a ingratidão de uma pessoa, não pode paralisar as boas ações de uma outra. Se a solidariedade ou uma atitude positiva foi feita esperando um retorno, seja lá que tipo de retorno se esperou, então na verdade, não se fez pelo outro, mas por si mesmo. 
Lógico que em toda relação há uma troca e eu fui autêntica com você, mas eu esperava algo de você que nunca iria vir, mas mesmo assim eu me desdobrava para chamar sua atenção.
Outra coisa que é importante frisar, é que não é bacana imaginar a sua vida ao lado de quem já não está mais nela. Principalmente se você já tem alguém em sua vida.
Deixa explicar: Na primeira carta, você disse que tinha uma namorada chamada Ana e que ela era tão distante quanto você é, ou era, não sei... Estou confusa! Na segunda, você disse que pensava em mim e fantasiava sua vida comigo. O fato é que se você não gosta do jeito dela, tenta encontrar uma pessoa que você possa gostar. Você é um homem lindo, inteligente, vai conhecer uma mulher super especial que vai estar disposta a te fazer feliz assim como eu estive. Mas não engane ninguém. Mesmo que essa Ana seja uma Elsa (você não vai entender essa parte).
Porém, também vou te contar um segredo, sobre algo que aconteceu algumas semanas depois que não te via mais. Você não utiliza as redes sociais, certo? E nem tinha como eu ficar te encontrando nas fotos, porque, fui obrigada a apagar tudo o que me lembrava você. É porque cada vez que eu olhava, sentia um aperto muito grande no peito e uma vontade imensa de te abraçar. Então, a única forma que eu achei que poderia te esquecer mais rápido, era apagando todos os vestígios de quando eu estive com você. Só que a memória é traiçoeira, não é?
Então eu lembrava da forma nada poética que você tentava explicar o amor, passei a ler autores que você gostava com a mesma avidez que você os lia. E era assim que eu te encontrava, Pedro. Naquilo que você gostava. No amor que você mantinha pelos estudos. Eu passei a ler Spencer, Sapir, o próprio Nietzsche, o esquisito do Schopenhauer... Continuava sendo chato, mas era a forma de eu ter contato com você. Era ali que eu te via, naquilo que sempre teve a ver com você.
E eu passei a entender tanta coisa a partir do que eu lia, eu aprendi tanto... Eu aprendi com você, mesmo você estando longe. Eu li os artigos que você publicou, eu via os filmes que você gosta...
Você ainda fazia parte da minha vida de alguma forma. E imaginar que eu não tinha o mesmo valor, a mesma importância ou que eu não lhe fazia falta, era muito doloroso.
Por isso, te agradeço por você agora insistir em dizer que eu sou especial pra você. Você também é muito especial pra mim, Pedro.
Estamos ligados por nossos profundos aprendizados. Pelo desenvolvimento que permitimos nos dar um ao outro através dessa troca na nossa relação. Nossas diferenças fizeram diferença na nossa vida. E eu amei aprender com você. Eu acho que agora estou sendo a Júlia das qualidades que você ressaltou. Eu não tenho condições de esquecer você, Pedro! Claro que podemos ser amigos!
Agradeça a sua mãe o convite, mas pede para ela colocar outro convidado no meu lugar. Vou tentar enviar um presente, por tanto, você não precisa vir. Não acho legal receber um ex-namorado agora que estou conhecendo outra pessoa e me envolvendo cada vez mais com ela. Desculpe!
Lógico que te perdoo! E também peço perdão! Fique bem!

Com admiração...
Sua amiga Júlia


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Para ler a carta de Pedro, a última do Blog: Clique aqui!

11/03/2017

Arte e eu

Imagem de Katsiaryna Pleshakova


Eu sou feliz! Juro! Quer dizer... Não o tempo todo. Mas se tem algo que sei fazer é sorrir com gosto e amar sem medo. Sem medo, é mentira! Às vezes tenho medo de amar demais, mas esse medo não paralisa meu sentimento, mas uma coisa eu tenho que confessar: Eu nunca tive apego à vida!
A maturidade foi o maior presente que ganhei. A cada ano, a vida vai te presenteando um quilo a mais de sabedoria e um quilo a mais de responsabilidades. Eu acho que é isso o que significa o termo: O peso dos anos.
Estar mais madura me possibilitou uma consciência ampla sobre minhas próprias competências e amenizou o duro julgamento que eu atribuía sobre mim. Também me trouxe mais confiança e extinguiu a necessidade de aceitação alheia sobre as minhas produções, além de ampliar minhas expectativas em relação aos meus desejos pessoais.  
A minha maior defesa contra as epidemias psíquicas é a contemplação da criatividade alheia. Aliás, Rollo May, o psicólogo existencialista em seu livro: “A coragem de criar”, ressalta que a criatividade é o combustível da arte e que sem a arte a gente não conseguiria resistir às loucuras desse mundo turbulento.
Eu nunca quis viver aqui para sempre. Ambiciono algo muito maior e eterno. E todas as vezes que eu me deparo com a dor eu penso sempre no dia em que nada mais disso vai existir.
Parece utópico, mas de uma coisa eu tenho certeza... Qualquer forma de expressão humana me faz querer viver aqui para sempre, porque é o que me liberta, me eleva, me felicita e faz o meu coração pulsar. Só diante da arte eu me condoo pela vida terrena não ser eterna.

06/03/2017

Cartas Contemporâneas - Um amor possível? III

“Pessoas muito racionais, rígidas, trazem dentro de si sentimentos de fracasso e impotência, porque a exigência que o mundo racional faz é a do não erro. Mas, é por intermédio do erro, do experimento, das possibilidades de tocarmos outras perspectivas, que poderemos nos superar e sermos mais alegres com a vida.”
(Marisa Esperanza)


Ler CARTAS anteriores: Carta ICarta II 


Ator Mario Casas

Júlia, preste bastante atenção no que vou lhe dizer:
Nada do que você me diga e seja lá a forma que irá dizer, me fará mudar o que penso sobre você.
Então poupe seus esforços na procura por palavras para me depreciar porque irás falhar.
Estou muito consciente de todo mal que lhe causei e o pior mal que fiz, não foi só a você, foi a mim mesmo, porque eu afastava toda e qualquer pessoa da minha vida. Principalmente as que mais me tinham apreço.
Estou tentando reparar isso e por mais distante que eu tenha estado de você, todos os dias você me dizia que eu lhe fazia a mulher mais feliz do mundo. Porque você mentia?
Você também tem defeitos, não tem? Apesar de não serem aquelas coisas fúteis que eu apontava e de seus defeitos serem insignificantes em relação suas qualidades, não significa que não os tem ou que não tenha algo que necessite melhorar em si mesma.
O fato de seres uma pessoa maravilhosa e com muitas qualidades, não anula o fato de que és humana. E se reparar bem o mundo em que vive, existem mais Pedros do que Júlias. Eu sou um cara comum, que reflete as mórbidas relações do nosso tempo. Sua personalidade que é atípica e peculiar.
Puxa, Pelo amor de Deus! Você me conhece um pouco melhor do que qualquer pessoa nesse mundo e sabe que jamais diria que derramei lágrimas se elas não houvessem caído, jamais pediria perdão se não estivesse de fato arrependido. 
Eu nunca soube ser gentil, carinhoso, romântico, nunca soube valorizar a família, nunca conservei amizades, não aprendi nada disso. Eu odiava quando você me chamava de velho carrancudo. rs
Eu queria ser diferente, eu tentava ser diferente, mas não conseguia ou talvez eu não achasse que mudar fosse necessário.
Também sinto imensamente por fazer você se sentir insuficiente para estar ao meu lado quando na verdade era o contrário. Mesmo se eu tivesse tido condições de ser uma pessoa melhor para você na época em que estávamos juntos, ainda com a nossa forma tão distinta de enxergar e lidar com as questões da vida... Talvez nosso relacionamento não fosse algo que pudesse dar certo. Como você mesma disse, somos muito diferentes! Queria que você me perdoasse e se possível, que voltássemos a nos relacionarmos como amigos.
Compreendo a resistência apresentada em sua resposta e lhe dou todo o tempo do mundo para que absorvas o que estou lhe pedindo. Não gostaria de viver sem que eu pudesse testemunhar a beleza dos teus atos. Imagina o quão melhor eu poderia ser se pudesse aprender pela observação das tuas ações? Um reforço vicário, entende?
Olha... Vou te contar uma coisa que talvez eu me arrependa quando clicar em “enviar”, mas... é que a empresa está vivenciando a crise, meu telefone não para de tocar e a cada toque, sei que é o Alysson me trazendo novos problemas. Então vou te confessar uma coisa: Nada disso me tira o sono, porque antes de dormir, eu fantasio a minha vida com você estando nela novamente e é o que me faz dormir em paz. 
Acordar é que tem sido desesperador! Meus dias sempre foram sombrios e desde que você se foi, eles se tornaram assombrados. Eu lembro desse dia como se fosse ontem. Você cruzou a porta, e eu, com todo o meu orgulho, jamais imaginei que aquela atitude tão sutil fosse definitiva. E acredite! Eu fiquei paralisado no sofá reconstituindo a tua fala na minha mente até que o dia clareou e eu precisei me arrumar para ir trabalhar.
 Eu não tinha ainda dimensão da saudade que sentiria de você, porque no fundo, estou sendo sincero, eu imaginava que irias repensar o que disse e me procurar. Todas elas faziam isso. E quando eu dei por mim que isso não iria ocorrer e quando começou a me incomodar, estranhe. Foi aí que passei a reviver em minha mente as situações em que estávamos juntos e tentei entender o que estava acontecendo comigo. Nunca senti falta de quem quer que seja.  
Quando comecei a cogitar que você não estaria novamente na minha vida, eu fiquei tentando buscar em minha memória o motivo de você ter me deixado, porque pelo que eu me lembrava, não era assim um namorado tão ruim. Só depois de muito tempo, passei a estudar minhas atitudes e, foi difícil demais constatar que o erro estava em mim, que o erro era meu, que o erro era eu.
Lógico que a ficha não caiu assim tão fácil, tão rápido... Eu tive ajuda pra compreender o que estava acontecendo comigo. Quase pirei! Sério!
Mas essa culpa, essa dor, essa saudade não passam nunca. A única coisa que passou foi meu orgulho. Entende agora que estou confessando o meu orgulho?
Eu sinto falta do seu cuidado, do seu carinho, de ser amado! Confesso! Também passei a te valorizar depois que perdi. Verdade! No entanto, não é só disso que eu sinto falta. Eu sinto falta da Júlia! E da alegria que você tem e que é tão sua...
Desculpe manchar sua visão sobre os relacionamentos tendo sido seu primeiro namorado. Você também foi a minha primeira namorada! As outras eu trazia para minha casa, mas só você entrou na minha vida, ainda que muitas vezes eu mesmo tenha lhe fechado a porta dos meus sentimentos. Eu não sabia falar sobre eles. 
Errei muito e apesar de almejar transformações bruscas na minha forma de lidar com as pessoas, não sei se essas transformações seriam capazes de acontecer, mas de uma coisa eu tenho certeza. Eu já mudei um pouco.
Sou implacável na retórica, razoável na escrita. Estou tentando ser o mais simples possível para que você acredite em mim. Demorei muito para conseguir te escrever daquela primeira vez, e... só pra você saber... Sim! Eu fui ao psicólogo. rs
Talvez eu não mereça seu tempo, mas, se você puder gastar alguns segundos para escrever meu tão esperado “Te perdoo”, eu ficaria muito aliviado. Seria ideal que eu pudesse ouvir estas palavras pelo som da sua voz, Júlia.
Eu não consigo parar de escrever. Vou fazer o que sempre fiz de melhor. Vou ser prático.
Você soube que minha mãe casou ano retrasado, não é? Eu não fui porque eu não suporto aquele cara.
Entretanto, para lhe mostrar que apesar de não saber se conseguira, estou disposto a mudar, quero lhe fazer um convite: As bodas de algodão da minha mãe acontecem dia 24 de agosto e ela ficou de lhe enviar um convite por correio. Eu irei se você puder confirmar sua presença. Por favor, me permita ir à sua casa lhe entregar o convite pessoalmente?

Atenciosamente

Pedro Pardini

Para ler a penúltima carta de Júlia em resposta a esta, clique aqui!