02/03/2017

Cartas Contemporâneas - Um amor possível? II

Esqueça as antigas cartas de amor cheias de fantasia! 
Em "Um amor possível?" experiências e lembranças de 
um relacionamento são contadas através de cartas
 trocadas  por seus personagens de uma forma muito real.  
Pedro afirmou que Júlia o tratava com bom humor e leveza. 
Características que podem se modificar ao longo do tempo, 
principalmente após um relacionamento que não terminou bem, 
por isso,  talvez essa menina leve e bem humorada 
não existam mais para ele. Se bem que...  
Pedro pediu perdão por sua conduta irascível 
e na verdade, o tempo cura tudo, não é?



Para ler a carta de Pedro à Júlia clique aqui. 



Foto meramente ilustrativa - Atriz Berta Vázquez

Oi! Estou bem, Pedro!

Realmente faz muito tempo!
Fiquei mais surpresa ao abrir seu e-mail do que quando abro a conta de luz.
Muita gentileza da sua parte me escrever ressaltando minhas qualidades e pontuando os seus erros e defeitos, embora felizmente isto não seja mais necessário.
Finalmente consegui me livrar da culpa de não ser boa o suficiente para você.
Sabe Pedro, te achava um homem maravilhoso! Inteligente, sábio, estudioso, super focado no trabalho... Amava a sua sinceridade e até a sua seriedade.
Já eu sempre fui muito agitada, brincalhona, sensível... Você desaprovava a maioria das minhas atitudes com a expressão mais impaciente que podia forjar. Eu me sentia tão estúpida... Com um tempo de relacionamento, eu comecei a sufocar quem sou, a fim de tentar caber no seu mundo “perfeito” e racional. Nunca consegui.
Quando você disse que fui muito inteligente por ter te deixado, eu ri, porque na verdade, não rompi o relacionamento porque cansei. Só deixei você, por imaginar que nunca iria ser capaz de te fazer feliz.
Acredita que eu não me sentia digna e nem a altura do homem que amava?
Só muito tempo depois que nós terminamos, eu percebi – isso levou vários meses – que meu amor por você não era recíproco e eu parei de me culpar e passei a compreender que o motivo das suas reclamações, distância e desistências dos compromissos que marcávamos, não era o que eu fazia ou o que eu deixava de fazer e sim o seu desprendimento de todos que te rodeiam e fazem parte da sua vida. Eu não era somente eu a única refém do seu egoísmo, seu isolamento, seu individualismo...
Bem, os vídeos que eu posto no meu canal são tão importantes a mim, quanto os contratos que você assina na sua empresa. Você podia ter respeitado mais esse meu hobby, que agora têm me rendido lucros, e cresce a cada dia mais com algo que você conhece muito bem. Publicidade, investimento, compromisso e qualidade. Se a gente pode trabalhar com o que gosta, por que não? Eu nunca fiz você desistir de nada.
Só pra você saber... Eu nunca lia seus livros. Só falava sobre eles porque pesquisava as resenhas. Contudo, eu não fazia isso somente para te impressionar, era pra conversar sobre assuntos dos quais você gostava. Porque tudo girava ao seu redor. Eu, inocente, ia abrindo mão de mim para me voltar apenas àquilo que era só seu. Eu gosto de aventuras e romance, Pedro! Ro-man-ces! E dane-se a opinião nunca pedida que você dava sobre meus gêneros preferidos. Você precisa aprender a respeitar as diferenças. Eu nunca reclamava dos seus gostos e das suas manias... Pelo menos não tanto quanto você reclamava das minhas.
O que você precisa, é de um psicólogo ou de um professor de astronomia que te ensine que existem muitos outros planetas maiores que a Terra dentro da nossa galáxia, e muitas outras galáxias bem maiores que a nossa Via Láctea, por isso, é ideal que você repense, descubra ou invente um significado para a sua existência que seja maior ou melhor do que preocupar-se com o que as suas namoradas leem. E saber disso também te ajuda a entender que você não é o centro do universo. Viu como meu interesse pelos astros não se resume ao horóscopo?
O que me fazia ponderar se o nosso relacionamento realmente valia a pena, era o fato de eu me iludir achando que bem lá no fundo você me amava, embora não conseguisse demonstrar. E também o vínculo que eu conservava com a sua família. Que sempre me acolheu. Aliás, eu nem poderia falar sua família... Você nunca foi próximo a ela. Estranho você citar a sua avó e meu afeto para com ela... Me diz no que a forma de eu tratar a sua avó lhe trouxe boas recordações, Pedro? No velório dela você nem esteve presente... Eu conhecia a sua avó há 6 anos e você a conhecia há 25. Sim, você é um babaca! Fico feliz que tenha reconhecido.
Poderia pedir pra você mandar um abraço a todos, mas você não irá vê-los tão cedo. Engraçado você me perguntar se eu me lembro de seus parentes, eu não sei é como você ainda não os esqueceu. Sua família é atípica, Pedro! Têm prazer em estarem juntos.
Tenho certeza que você e essa tal de Ana só se viram poucas vezes, pelo fato dela não ter paciência de estar com você. A única idiota que te aturava, tolerava e aceitava sua frieza, era eu. E deve ser por isso que você me escreveu. Mas eu cresci, amadureci, evoluí... Desculpe! Eu sempre fiz o que você queria, o que você gostava, o que você pedia... O que dizer da Ana que nem conheço, mas já considero tanto? Ela sim sabe conviver com a muralha intransponível dos teus sentimentos.
Eu não sou assim, Pedro! Eu quero a pessoa por inteiro, mesmo sabendo que ela precise de um tempo só para ela, para vivenciar a sua própria individualidade... Mas se você pretendia estar só, qual foi mesmo o motivo de ter iniciado um namoro comigo?
Eu entendia que você não conseguia se abrir comigo sobre seus problemas, mas não precisava se fechar para mim sempre que eu tentava falar dos meus.
Você foi o meu primeiro namorado. A pior experiência da minha vida! Manchou por um tempo a minha visão sobre os relacionamentos. Também demorou um tempinho para que eu abandonasse a visão de limitação que eu tinha sobre eu mesma e que você ajudou a construir erroneamente.
Não, Pedro! Eu não me importava com seus testes estúpidos para medir a minha inteligência, não me importava com a quantidade de vezes que você reclamava de eu ser atrapalhada, de deixar seu quarto bagunçado, de não devolver seus livros. O que eu nunca entendi foi sua incapacidade de responder minhas mensagens e demonstrações de carinho. A sua indiferença para comigo é algo que não tenho como esquecer. Isso me matava por dentro, principalmente porque eu odiava sua frieza, mas não deixava de amar você. Embora, felizmente agora sua existência no mundo pra mim é indiferente.
Você não é só frio, todos os seus relacionamentos são superficiais e cheios de protocolo. És tão sensível como uma pedra, portanto, não force dizer que tem lágrimas nos olhos quando pensa em mim, porque é uma mentira evidente. Por isso, não perca seu tempo se esforçando em me desejar o melhor. Não se preocupe comigo! Se ocupe com aquilo que sempre foi prioridade na sua vida. Você mesmo! Sucesso!

Júlia Barcellos



Para ler a resposta de Pedro: Clique aqui!

15 comentários:

Unknown disse...

Nossa! Que bela carta e a sinceridade escrita! Algumas mulheres não tem coragem de fazer o que a Júlia fez, ela colocou para fora tudo de errado que houve.no relacionamento e, pelo que vejo, o término foi por culpa dele, somente dele que não valorizou e se importou com quem tinha ao lado. O Pedro queria ser o centro das atenções e queria que tudo fosse do jeito dele, que falasse coisas que se diz respeito dos seus gostos.
Esse é o retrato do que acontece muito em relacionamentos, pode ser em ambos os lados. Para dar certo, devemos ouvir e compreender o outro, não enxergar somente a ti, mas a outra pessoa.
Adorei o texto! Esse é um assunto que acontece muito.

Beijos, beijos
relicariodehistoriasma.blogspot.com

Unknown disse...

Já amei o primeiro texto e esse então? Estou embasbacada com esse talento, guria!!! Teremos mais cartas?

Um beijão!
Blog com V.

Unknown disse...

Uau, que forte! Que coragem kkk eu teria pena do cara em escrever tudo isso! 'Mas eu entendo que deve ter muita mágoa pra ela falar tudo com tanta sinceridade assim! Relacionamentos são complicados, fiquei com o coração na mão e desejando que tudo fique bem kkkk parabéns por seu texto! Ficou sensacional!

MEMÓRIAS DE UMA LEITORA

BelGoes disse...

Olá, tudo bem?

Mesmo que eu não entenda o objetivo das cartas, porque todos os meus relacionamentos terminam de boa, achei interessante a proposta. Não faria nada parecido, mas isso é o legal do ser humano, sermos diferentes.

Parabéns pela proposta.

bjsss

Eliziane Dias disse...

É um conto, Bel! A cada semana eu posto um capítulo em forma de cartas. O relacionamento terminou, mas não significa que eles não possam sentir falta um do outro e tentar algo novamente de forma sutil, não é? rs Obrigada pelo teu comentário! Beijos!

Eliziane Dias disse...

Obrigadinha, flor! Ela só está desabafando. Que bom que você gostou! fico feliz!

Eliziane Dias disse...

Teremos, sim senhora! kkk Obrigada pelo incentivo, sua linda! eu que amo sua forma de escrever me sinto honrada! Beijo!

Eliziane Dias disse...

Que comentário lindo! Quanta sensibilidade! Sim! Você fez a leitura perfeita dessa relação conturbada de Júlia e Pedro.

Florensce Design disse...

Caraca, eu pensei que depois da carta do Pedro ela ia se sensibilizar toda, mas não, deu é banho de água fria nele. E sinceramente, ele merecia, porque foi muito idiota em tratar essa como tratava. Já amei a Júlia e não vejo a hora de acompanhar o resto.

Eliziane Dias disse...

Já publiquei a carta dele. Está cheia de sentimento. Mas quase ninguém acredita no Pedro, tadinho! rsrsrs

Suelane Pereira Passavante disse...

Ualll
Fiquei sem palavras! Adorei a carta!

Bjs
Suka
http://www.suka-p.blogspot.com.br

Milca Abreu disse...

que texto maravilhoso, bela escrita!

Ana Caroline Santos disse...

Olá, tudo bem? Que carta sincera amiga. Adorei e já estou a espera de mais <3
Beijos,
diariasleituras.blogspot.com

Bruna Morgan disse...

Ela está certíssima, foi até muito educada!

Com amor,
Bruna Morgan

Denise Bordignon disse...

Uau!

amei a carta! adorei ver a canoa furada que ela se livrou!

bjs