15/08/2018

Colorindo os dias


Versão I

     A tarde caía como dizia uma das canções que foi ouvida insistentemente e, tão insistente como o som que era ouvido, uma chuva fina cantava lá fora, junto com as músicas cantadas lá dentro.
     Havia borboletas imperfeitas como a vida e, eram de múltiplas cores. Mas lá fora, só o cinza do dia foi pintado.
     Pela abertura da janela, o vento adentrava para ouvir histórias. Eram contos gélidos como o clima que fazia. Falava-se de rompimentos e assombros.

     Praguejou-se quando percebeu-se embargos e principalmente pelo receio de ficar só.
     Em um momento se cantava furtivamente, em outro recortavam cores, em outro recobravam dores do passado, para em outro momento, redecorar os planos...
     Duas pessoas felizes com um momento simples em um ambiente que acolhe e recolhe dores, mas também salpica de esperança à vida. Não havia nada para enfrentar, se não um grande eco pairando no ar das coisas que se contavam sobre amores que deveriam ter sido, mas não foram.
     O peso dos nossos dias eram relatados ali e ali deveriam ser superados, pois, uma era o espelho da outra. E assim é a vida!

Versão II 

     Eu e Suzana no estágio, recortando borboletas coloridas de cartolina para o mural. Suzana colocou as músicas do cantor Jorge Vercillo no celular pra ouvirmos. Repetimos "Ela une todas as coisas" umas 365 vezes.
     Uma hora a gente recortava as borboletas, na outra a gente ficava cantando que nem louca. As borboletas saíram todas tortas. Estava fazendo um frio horroroso, não parava de chover, a chuva aumentou, começou a molhar a gente, Suzana fechou a janela, a janela emperrou, ela falou um palavrão...
     Ficamos falando de traição. Uma foi corna, a outra rejeitada por uma pessoa que ela dizia que era o namorado dela, mas o cara nem sabia.
     Eu ficava dizendo que queria ser rica... Ficamos contando história de terror, Suzana não queria ficar sozinha na sala porque ficou com medo.
     Isso tudo aconteceu na sala da assistência social no lugar onde acolhe vitimas em situação de violência e como não tinha ninguém pra atender, ficamos recortando dezenas de borboletas até não aguentar mais, mesmo achando uma tarde maravilhosa porque a gente é pobre e gosta de coisas simples.
     Fiquei reclamando que estou gorda e a Su dizendo que estava frio e que não queria ir pra academia, mas não ia faltar, porque certamente não queria ficar com a barriga do tamanho da minha. Foi o que aconteceu.

8 comentários:

Karine Fernandes disse...

Nossa que legal, não é muito o meu forte mas gostei de ler, foi interessante. Parabéns. Bela escrita.

Abç.

Eliziane Dias disse...

Ok!

Porão Literário disse...

Que lindo! Mesmo não sendo meu estilo de leitura eu gostei bastante, <3

Patricia Monteiro disse...

Seu post me fez reviver meus dias de faculdade e as amigas que lá fiz. São dias muito especiais, ficam na memória e têm um lugar cativo no coração ❤

DIVE WEB disse...

Parabéns, li duas vezes e compartilhei com amigos, pois achei magnifico.

Alice Martins disse...

Oi Eliziane, tudo bem?

Adorei que você trouxe duas versões de uma mesma história. A primeira, poderíamos dizer que é mais profunda, pois trabalha com as entrelinhas. Já a segunda nos deixa claro o quanto essas jovens tinham sofrido e o que ocorreu com elas, de forma mais "explícita". As suas palavras conseguem ser certeiras e pegar no fundo da alma. Simplesmente amei o trabalho, explêndido, parabéns!

beijos!

Blog 3 2 1 Ação! disse...

achei bem legal sua escrita, você usou uma linguagem bem poética em um e no outro já foi mais direta, bem interessante! parabéns <3

Tahis Aguiar disse...

Olá!
Como nós somos um misto de sentimentos né, como vivemos os dias com humores e jeitos diferentes. Sua escrita é ótima, e envolve no jeito de contar, mesmo em dois estilos diferentes.

beijos