“As
crianças contemporâneas (especialmente as que têm mais de 50 anos como eu)
batem o pé, fazem beicinho, mandam mensagem no WhatsApp e argumentam. Mas, como
toda criança, não ouvimos ninguém. Ou melhor, ouvimos desde que o outro
concorde comigo; então ele é sábio e equilibrado.” p.13
Título do Livro: Todos contra todos – O ódio nosso de cada dia
Autor: Leandro Karnal
Editora: LeYa
Ano: 2017
Páginas: 143
Assuntos: Aspectos sociais; discriminação; preconceito e antipatia.
A prática da leitura além de promover o
entretenimento, permite a identificação e organização dos sentimentos,
pensamentos e ideias. Foi o que esse livro me proporcionou.
Karnal
utiliza uma linguagem de fácil interpretação, trazendo concepções bem-humoradas,
reflexivas, conflitantes e, por ser historiador e professor, também é bastante
didático.
O
historiador discursa sobre nossas pequenas maldades diárias, fala de Freud e
psicanálise, apresenta contextos ao longo da história, fala de política e diz
que o Brasil é um país sem grandes catástrofes naturais como os terremotos,
tsunamis, vulcões e que por muitos anos reforçamos nossa imagem de um povo
amistoso; que historicamente ocultamos o termo “guerra” de nossa história, mas
elas aconteceram e foram bastante sangrentas, e, por termos horror ao termo, os
livros de história, o amenizam chamando vários massacres e conflitos de
“revolta”.
O fato
de sermos um povo hospitaleiro e alegre, não quer dizer que não tenhamos uma
face violenta a qual tentamos a todo custo, ocultar sem sucesso algum.
Os
dados sobre a realidade do trânsito são assustadores. De acordo com Karnal, segundo
o Observatório Nacional, o trânsito no Brasil faz certa de 40 mil vítimas por
ano (dados atualizados, mostram que esse número cresceu consideravelmente).
“Somos um país violento. Violentos
ao dirigir, violentos nas ruas, violentos nos comentários e fofocas, violentos
ao torcer por nosso time, violentos ao votar.” p.10
Karnal
ressalta que o ódio surge principalmente quando nos sentimos ameaçados, quando
o sucesso do outro traz à tona nosso fracasso, ou quando não concordam conosco,
ou seja, é mais fácil rotular o outro de machista, esquerdista, feminazi, burro ou outro
rótulo qualquer, do que dialogar argumentando. Se alguém não concorda conosco,
lhes fechamos a porta de qualquer diálogo. Sem contar que
terceirizamos nossas responsabilidades e falhas. A culpa é sempre do outro,
nunca nossa.
Todo o
contexto que Karnal oferece para fundamentar suas ideias é bastante elucidativo.
Ele recheia o livro de preciosas referências literárias como Memórias de um
sargento de milícias, Casa grande & Senzala, O tempo e o vento, 1984,
Raízes do Brasil, entre muitos outros.
O que
compreendi ser a maior lição contida no livro é a importância de reconhecer o
quanto podemos ser cruéis em relação a algo que não gostamos. E a importância
também de reconhecer o sentimento de ódio e não negá-lo, pois, se o
identificamos e o compreendemos, é muito mais fácil tratá-lo. Este
reconhecimento é imprescindível, porque não há como tratar algo que se diz não
ter.
“O ódio sempre existiu e flui por
todos os lados. Não é fácil existir e acumular fracassos, dores, solidão,
questões sexuais, desafetos e uma sensação de que a vida é injusta conosco. O
mais fácil é a transposição para terceiros.” p.11
O
autor ressalta que o fato de alguém odiar algo, diz muito mais sobre quem odeia,
do que quem é odiado.
Alguns
exemplos colocados no livro sobre a fonte de nosso ódio estar em nós e não no
outro, foram as seguintes:
– As mulheres passaram a ter direitos
iguais e por isso estão ganhando espaço no mercado de trabalho, isso reduz as
vagas para os homens, odeio o feminismo por isso;
– Trabalho
doze horas por dia, mas você acorda tarde, odeio essa sua atitude e digo que eu
sou a virtude, pois, trabalho e você é preguiçoso, ou seja, culpo a sua
preguiça, para não dizer que estou esgotado por excesso de trabalho;
– Odeio
as cotas raciais, porque os negros estão entrando nas universidades e ganhando
espaço, quando na verdade, eu não consigo assumir uma vaga;
– Odeio
a Anitta porque ela faz um sucesso que deveria ser meu;
– Um homem fracassa no seu projeto amoroso. O que é mais fácil?
Culpar o feminino ou a si? A resposta é fácil.
De acordo com Karnal, a internet maximizou a
expressão de ódio e intolerância, mas a internet não produziu os idiotas, estes puderam atacar de forma anônima e por isso, covarde, com uma energia
muito grande, com certa “proteção” formando grupos de pessoas com pensamentos
semelhantes.
Discordo
veemente de sua opinião de que o ideal cristão de amar aos inimigos seja uma
utopia. Se ele não consegue e não vê propósito, é um problema dele. rs Não
que seja algo fácil, mas é possível! Karnal faz afirmações segundo sua
própria interpretação do que é ser cristão e falha. Bem típico de um não
cristão que conhece a Cristo de forma técnica e inexpressiva.
Enfim, o livro é bastante introspectivo. Considero leitura obrigatória! Para
quem? Para todos! Pois, o ódio é um sentimento humano e por isso, acomete a
todos nós e compreendê-lo, não é tarefa fácil, mas imprescindível para sermos
melhores.
“Por isso que digo
que para entender o Brasil, nós precisaríamos de mais de Freud que de Marx.
Mais subjetivo e psicanalítico do que generalizado.” p.21
18 comentários:
Olá...
Adorei sua resenha, muito bem escrita! Gostei bastante de conhecer suas impressões a respeito da obra, parece ser um livro para se refletir e informar bastante... Gostei muito da premissa e espero poder ler em breve <3
Bjo
http://coisasdediane.blogspot.com.br/
Oie. Eu gostei bastante da resenha e do livro em si. Mostra como somos irracionais as vezes por odiaruma pensando somente em nosso ponto de vista. Acho legal um autor abordar isso em uma obra porque o mundo é tão cheio desse ódio irracional que um choque de realidade precisa muito existir as vezes.
Gostei muito da proposta.
Beijos.
Blog: Fantástica Ficção
Oi oi!
Tudo bem? Eu vi alguns comentários sobre o livro e a maioria foi em tons positivos, mas não estou numa vibe de leituras instrospectiva no momento, mas um livro que discute ódio que é um sentimento que em algum momento vamos acabar sentindo.
Nem vou entrar no mérito de amar os inimigos porque, de verdade, isso levaria a um debate teológico extenso. Basta dizer que não me acho capaz de amar meus inimigos, mas não odeio ninguém. Acredito que o esquecimento é o melhor que posso fazer.
Beijinhos
www.paraisoliterario.com
Concordo com oq disse sobre o "ódio" (bem no finzinho do post). Achei a capa do livro bem linda, e a foto tbm ficou mara 😍 beijos e até ❤
Gostei do livro por ser didático, amo livros assim e esse eu com certeza vou ler. Esse parte sobre o ódio eu gostei bastante, é uma boa reflexão afinal. Ótimo post
Oi, tudo bem?
Eu gosto muito de ler as coisas que esse autor escreve, ele fala de uma coisa tão simples de uma forma diferente e fácil de ser compreendida. Junto com meu esposo assistimos vários vídeos que ele publica na internet, quero comprar o livro dele para conhecer mais sobre o seu ponto de vista.
Gostei da sua resenha, ficou muito interessante!
Beijos e abraços
http://vickyalmeida.blogspot.com.br/
Ai caramba! Preciso ler esse livro já! Faço questão de anota-lo aqui em meu bujo para que eu possa lê-lo depois. O ódio é um sentimento enraizado em todos nós. Julgo até mesmo dizer que é uma banca onde se vende de graça, "ódio gratuito, aqui!". Inacreditável, mas é assim mesmo que já fui chamada, de burra, feminazi, marxista, etc... Costumo dizer que ser feminista e lésbica já é o suficiente para me odiarem de graça e sem ressentimentos.
Até mais! O/
Oii!
Leandro Karnal é uma pessoa que admiro muito, frequentemente assisto as palestras dele, entrevistas e aulas dele na internet. Em uma dessas creio que era um café filosófico ele mencionou esse livro. Tenho muita vontade de ler <3
Nossa sociedade como qualquer outra está cheia de problemas e acredito que só com a discussão saudavel eles podem ser solucionados.
Bjs
Fernanda Reads <3
Não conhecia o livro nem o autor, mas gosto de leituras que vão além do entretenimento e nos fazem refletir sobre os mais diversos assunto. Valeu pela dica.
Blog Profano Feminino
Eu com certeza preciso ler o livro e passar p todo mundo ler também amei
Nossa, não conhecia esse livro :O Adoro leituras que tratam de temas atuais e "polêmicos", que nos fazem refletir sobre nossas atitudes e forma de ver o mundo. Vou adicionar à minha lista de desejados.
Gostei muito da resenha, conseguiu apontar muitos pontos interessantes, falando sobre muito do livro, mas ainda deixando aquele gostinho de quero mais kkkk
Resenhas literárias são excelentes e eu adorei essa. A dica é ótima e não conhecia esse livro. Parabéns pela resenha.
Olá, tudo bom?
Eu ainda não tive o prazer dessa leitura, mas considero que não devo demorar a me aventurar em suas indagações, já que é isso quase obrigatório. Gostei da análise que ele faz quanto ao ódio e percebo a sua verdade nesse sentido. Realmente, é muito mais fácil culparmos o outro, do que olharmos para nós mesmos e vermos o que está errado. Além disso, temos guerra (inclusive uma civil, se pensarmos na violência generalizada que ocorre atualmente), mas queremos passar como um povo hospitaleiro, sendo que nos dividimos ao meio quanto o assunto é política. Quero muito ler essa obra e refletir sobre os meus próprios erros em relação ao assunto, já que é assim que podemos mudar, certo?
Enfim, adorei a postagem e agradeço a indicação :)
Abraços.
eu gosto dos posicionamentos de Karnal,vezemquando assisto suas palestras pelo youtube...
tenho curiosidade pra ler esse titulo dele... e concordo sobre a utopia de amar o próximo, tenho pensamentos bem próximos aos dele com relação a isso, e não é de maneira técnica que afirmo isso...
enfim...
sugestão anotada...
Olá, tudo bem? Gostei muito da sua resenha, bem elaborada e informativa. Não conheço muito bem o trabalho do Karnal, tirando os vídeos que circulam a internet... fiquei curiosa com a leitura e seguirei sua dica :)
Beijos
Oi, não conhecia a obra, mas preciso dizer que tenho que concordar com o autor porque a cada dia que passa vejo mais gente promovendo o ódio, sendo intolerante e muitas vezes se escondendo por trás de perfis fakes de forma a proteger sua imagem visto que não tem a cara de se mostrar, assim como achando que pode tudo e que só porque está na internet não haverá consequências. É a tipica obra que vendo a capa eu não compraria ou leria, mas depois da sua resenha se mostrou uma que eu definitivamente quero conhecer!
Um beijo
www.brookebells.com
Olá,
Pelo que li de sua resenha acho que esse livro deveria ser leitura obrigatória, principalmente no momento pelo qual estamos passando, é difícil ligar a TV e não ver as inúmeras tragédias que tem acontecido. Enfim, não conhecia a obra, mas, definitivamente é um livro que quero ler.
Beijos,
oculoselivrosblog.blogspot.com.br/
Oi.
Não conhecia, mas amei a mensagem trazia por esse livro.
Há algum tempo eu tenho tentado pregar no blog que quem pensa diferente não é inimigo. É incrível como as pessoas ficam tão revoltadas com uma crítica literária, uma opinião pessoal minha. Se, ao invés de essas pessoas já começarem a me xingar por conta da minha opinião, elas simplesmente falassem o que gostam ou não no livro, eu poderia mudar meu ponto de vista, ler novamente com outros olhos.
E isso porque estou falando de uma crítica literária, que é algo banal.
No que diz respeito a religião, eu raramento exponho minha opinião justamente porque cada um acha que sua verdade é absoluta e nesse assunto raramente existe diálogo saudável.
Mas adorei a resenha e descobrir esse livro.
com certeza pretendo ler.
Beijos.
Postar um comentário