09/08/2018

João e Maria por Neil Gaiman e o valor da parceria na relação familiar


Título: João e Maria
Versão: Neil Gaiman
Ilustração: Lorenzo Mattotti
Editora: Intrínseca
Reimpressão: Abril/2018
Páginas: 55
SINOPSE: Neil Gaiman e Lorenzo Mattotti lembram o horror e o fascínio que sentiram quando leram João e Maria dos irmãos Grimm. Agora, escritor e ilustrador se unem nesta brilhante releitura de um dos maiores clássicos de todos os tempos. Seja forte, corajoso e prepare-se: Gaiman e Mattotti vão levar você para um passeio nas profundezas da floresta.

     A versão de Neil Gaiman é a mais próxima da versão real, sem aquelas adaptações para tornar a história mais leve e menos chocante ao público infantil, tendo o autor pesquisado outras publicações.
    Ao final da história de Hasel e Gretel que no Brasil é João e Maria, é apresentado resumidamente o contexto histórico em que o livro foi publicado, suas versões posteriores à primeira publicação de 1812 e qual período social os irmãos Grimm poderiam ter se baseado para escrevê-lo.
     A leitura é agradável e rápida não só pela pouca quantidade de páginas, mas porque causa curiosidade sobre seu desfecho, uma vez que há diversas versões.
     A adaptação em questão, é muito bem escrita, poética, possui ilustrações feitas por Lorenzo Mattotti que inclusive fizeram parte de uma exposição e foi por meio deste evento que o convite para o livro surgiu. A capa é dura e a diagramação do livro também está bastante especial, digna de coleção.

     Os pais de João e Maria eram camponeses, viviam confortavelmente antes da guerra, pois, quando esta chegou, ocorreu a fome e é por esse motivo que os irmãos são abandonados na floresta pelo pai, à mando da própria mãe.
     Encontrando a casa de uma velha bem idosa, João e Maria que estavam famintos, saboreiam as paredes da casa da velha que é toda feita de doces. Os irmãos são recepcionados com simpatia pela velha que acredita que finalmente encontrou carne. Ela prende João em uma jaula a fim de degustá-lo, mas como não enxerga bem, é engabelada por Maria que mostra um osso toda vez que tenta averiguar se João engordou para poder assá-lo.
     É um conto para adultos, o final é bastante otimista e é exatamente a partir do desfecho da história, que pode-se pautar a análise sobre a parceria no contexto familiar.
"O dia minguou e veio o crepúsculo, as sombras de esgueirando, saindo de debaixo de cada árvore, formando poças cada vez maiores, até cobrir o mundo inteiro em uma única e imensa sombra." p.17
     Relação familiar é aquela em que indivíduos moram em uma mesma casa, têm vínculos sanguíneos ou não, dividem interesses comuns, se comunicam e mantém um vínculo afetivo independente do papel que se exerça seja pai, mãe, filho ou filha, marido, esposa, irmão ou irmã, avô, neta etc.
     Já a palavra parceria relaciona-se à cooperação, interação, companhia, é quando duas ou mais pessoas criam juntas estratégias e agem para realizar um objetivo em comum.
     Os irmãos João e Maria tiveram diversos momentos desoladores. Passaram pelo período da guerra, da fome, o abandono dos pais, o terror de terem sofrido na floresta sozinhos, depois todo o pavor e sofrimento nas mãos da velha.
     Não há absolutamente uma única família, seja de qual classe social for, que não vivencie conflitos e problemas. No entanto, a chave para superá-los é justamente buscar o convívio e a comunicação saudável e não isolar-se frente aos mesmos.
     Os momentos de conflito levam à fragilidade física e psicológica. É bastante difícil, nessas horas, criar estratégias, manter a sanidade e o foco necessário.
     Assim que ouviu o plano de sua mãe para abandoná-los na floresta, João buscou meios de retornar para casa e inicialmente, os planos foram bem sucedidos até que eles não conseguiram mais retornar e ficaram sozinhos na floresta, vulneráveis a todo tipo de perigo e, como se o abandono não fosse bastante traumático, os irmãos viraram prisioneiros de uma velha antropofágica.
     O curioso é que foi lá na casa da velha que eles conseguiram, após derrotá-la, bens materiais para retomarem suas vida no local onde cresceram. É a lição de que os problemas e obstáculos nos dão oportunidades de crescimento e mudança.
     Mas a grande lição do conto, é que ambos estiveram juntos até o final, não culpabilizaram um ao outro e ainda sim, depois de tudo o que vivenciaram, foram capazes de perdoar o pai.
     Sendo assim, o ideal é que se busque um bom relacionamento de afinidade e companheirismo na família, porque isso se constitui em um fator decisivo para superar os momentos difíceis.

Talvez você não teve uma velha canibal para enfrentar, nem tenha ficado perdido na floresta ao ser abandonado por seus pais, talvez não tenha passado fome após enfrentar a guerra, mas é possível que já pôde contar com alguém de sua família em momentos de grandes dificuldades, seja lá quais tenham sido. Qual o maior desafio que você e sua família tiveram que enfrentar juntos? 

CONTA PRA MISS

14 comentários:

Eliziane Dias disse...

Sim! Adorei a edição também!
Grata pelo comentário!
Beijos!

Blog Livre Lendo disse...

Quero muito essa graphic novel desde que foi lançado, mas ainda hoje não consegui comprá-lo!
Adorei a análise que você fez das questões familiares que permeiam a história. Já queria ler, agora, mais ainda! =)

Fernanda Santos Barroso disse...

Olá!
Tenho muita vontade de ler esse livro, justamente por ser algo bem mais "real" que o conto de fadas. Adorei conhecer um pouco mais dele e ver as lições que conseguiu identificar nele. Dica super anotada!

Abraços

Alice Martins disse...

Oi Eliziane, tudo bem?

Confesso que só conheço a história do contos de fadas que criaram em cima da obra. Mas, tenho muita vontade de ler a história real ou alguma adaptação como esta, que chega mais perto do real. a lição de família realmente é algo muito bacana e creio que possa inspirar muitas pessoas, pois claramente estamos "carentes" de relações familiares, que aos poucos se torna mais difícil. Com certeza essa indicação vai para a minha lista!

Beijos!

Poesia na alma disse...

A análise do livro ficou perfeita, já e aprecio a obra. Concordo com sua explanação sobre família e companheirismo, como o coletivo e o indivíduo amadurece dentro dessa relação, ou, a depender do caso, vive uma relação simbiótica, o que não é o caso de João e Maria.

Ana Paula Medeiros disse...

Oi! Eu simplesmente adoro releituras, e se tratando de um livro do Neil Gaiman me deixa com mais vontade de conhecer a obra. Sempre muito válido analisar e refletir sobre comportamentos e interações entre os personagens, relacionando para a realidade.
Com certeza vou querer ler. Dica anotada!

Aninha Goulart disse...

Oiiii,

Acredita que eu não conheço a história original de João e Maria? Eu sempre ouço falar muito sobre como a original é diferente das adaptações que foram feitas para que as crianças de nosso tempo pudessem ler e tal, mas nunca procurei pelo original. Agora fiquei curiosa para saber o quão diferente é a versão original das que conheci. Gostei de saber que mesmo que algumas coisas tenham mudado a lição de que quando ficamos juntos até o final a possibilidade de sucesso é maior e que mesmo com todo o contexto de abandono e tal eles conseguiram perdoar o pai. Adorei a capa desta edição e fiquei curiosa para conferir as ilustrações também.

Beijinhos...
http://www.paraisoliterario.com

Debyh disse...

Olá,
As histórias do Neil sempre tendem a ser mais pesadas mesmo, e com certeza este é um conto para adulto. Gosto também da moral que quase sempre tem em suas histórias.

Debyh
Eu Insisto

Unknown disse...

Oi, tudo bem?
Adoro o Neil e suas histórias, ele é profundo, real e usa o humor da forma mais obscura possível. Tenho poucos livros dele, mas já li bastante e não conhecia essa adaptação em conjunto. A Intrínseca arrasa muito nas suas publicações. Adorei a resenha, beijos!

Book Obsession disse...

Olá!
Ainda não li nada desse autor, mas já tinha curiosidade em conhecer mais sobre esse clássico. Gosto da forma como conduz os contos e fiquei com a impressão de uma leitura muito agradável.
Beijos!

Isa Araújo (Menma) disse...

Olá!!!
Eu gosto de descobrir mais sobre as histórias originais do que o enfeite que nos é feito na infância sobre os contos de fadas.
A versão dos irmãos Grimm eu já conhecia e já vi algumas resenhas sobre esta versão do Gaiman que é muito linda e chamativa
A resenha ficou maravilhosa e você trouxe a essência do que o conto quer transmitir ^^

lereliterario.blogspot.com

BelGoes disse...

Olá, tudo bem?

Os contos de fada como os conhecemos hoje são tão diferentes de como eram na realidade - assim como sua função foi completamente "desvirtuada", não sou lá muito fã de Gaiman, então vou passar a dica para um amigo que gosta bastante e como ele ainda não falou nada sobre esse livro comigo acredito que não conheça a obra..,
bjss e boa sorte

Tamires Marins disse...

Eu só fui saber que no original o nome dos personagens não era João e Maria após assistir ao filme de bruxas que fizeram há alguns anos. Não gosto do autor, por isso não leria o livro, mas acho interessante essa abordagem da família e suas problemáticas. Minha família já enfrentou diversos problemas, o mais recente envolve desemprego, mas juntos somos mais fortes.

Beijos
- Tami
https://www.meuepilogo.com

Unknown disse...

Oiii.
Resenha maravilhosa👏👏👏.
Eu adoro livros infantis e contos de fadas.
Tanto as histórias originais quanto as adaptações.
Esse já vai para a minha listinhade desejados.
Blog Romance de época é vida.